Gideão e os seus Trezentos
Alfredo Mignac
Era no tempo dos juízes.
Todo o povo
desprezara a Jeová. Tinha
ido, de novo,
após o deus Baal e dos
seus ímpios reis,
do Senhor infringindo as
mais sagradas leis!
Israel esquecera os
grandes benefícios
que lhe fizera Deus,
tirando-o dos egípcios,
onde comera o pão amargo
do desterro,
onde gemera sob os látegos
de ferro,
onde tudo era vil, onde
tudo era morte!
Quanto tempo passou! E
agora a mesma sorte
é a de Israel cativo às
mãos de Midiã,
sofrendo a mesma dor, em
meio ao mesmo afã!
Mas Deus, que sempre vê
dos seus o sofrimento,
escuta, da alma aflita, o
lúgubre lamento,
pronto para salvar, pronto
para servir,
quis ao encontro do seu
povo outra vez ir!
Estriando de luz os
umbrais do poente,
o sol vai se imergindo,
lenta e lentamente,
nas chamas do braseiro
enorme que acendeu!
No lagar malha o trigo um
moço forte – hebreu.
Parece que, trazendo a luz
do sol brilhante,
nas vestes divinais, - um
anjo, nesse instante,
aparece a Gideão e o chama
pressuroso,
para Israel salvar, indefeso,
inditoso!
- Não temas! O Senhor das
graças infinitas,
seu povo salvará das mãos
dos midianitas!
Vai! Contigo serei por
onde quer que fores:
no deserto ou no monte;
entre espinhos ou flores;
pelas trevas do vale ou
cavernas de horror!
Depois de provas ter que
era mesmo o Senhor,
Gideão conclama o povo à
guerra decisiva!
Erguendo agora a fronte há
pouco então cativa,
trinta mil se dispõem
marchar contra o inimigo
e dar-lhe o merecido e
mais justo castigo!
Madrugada... Em Moré, no
oiteiro, perto ao monte
as tendas de Midiã...
Israel, bem junto à fonte
de Haró, se acampa ousado!
Outra vez, com desvelo,
Jeová seu servo instrui,
lançando-lhe este apelo:
- Para que tanta gente?
Embora tanto seja
o inimigo que corre, indômito,
à peleja!
Dize ao povo que volte
aquele que quiser,
pois para Deus não é o
número mister.
A sua presunção o levará a
crer
que a vitória ganhou o seu
próprio poder!
Regressaram ao lar
milhares. Entretanto,
dez mil firmaram pé.
Jeová, mais uma vez,
quis a escolha fazer.
Assim quis, assim fez:
- Que o povo às águas
desça. E quantos as lamberem
como o cão, - separa-os!
Porém, os que beberem
abaixados, com as mãos, -
por certo não irão.
Porque o gesto bem prova o
fraco coração!
Trezentos foram só que as
armas não largaram
para a sede matar.
Trezentos que ficaram,
dispostos para a luta em
prol da Liberdade!
Avançaram! Na destra - o
Facho da Verdade;
vasos de barro – à esquerda,
- a fraqueza inimiga
que a justiça de Deus
esmaga e desabriga!
Embocando os clarins das
hostes divinais,
promovem confusão por
entre os arraiais!
Espada contra espada, a si
mesmos ferindo,
debandam pelo vale, as
montanhas subindo!
Trezentos! – Quais serão
os de hoje, separados,
para a Luta enfrentar como
fiéis soldados?
Trezentos! – frente ao
muro agonizante e triste,
com o Clarão da Verdade e
a Espada sempre em riste!
Trezentos! – contemplando os
arraiais da orgia,
onde o pecado afoga e a
carne tripudia!
Trezentos! – avançai! e as
almas cristalinas
ganhai para o Senhor! Por
montes e colinas,
por vales e vergéis,
correi, ó gideonitas,
e achareis ouro e
pedrarias e pepitas
de alto preço e valor,
para o Engaste bonito
da Coroa de Cristo – o Gideão
Bendito!
Do livro Horas Vibrantes
(1939)
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