A VIÚVA DE SAREPTA
I Reis, 17,12
Vamos cozer este pão
e depois morrer
vamos
carregar este chão
seco
com os nossos corpos, filho
e mãe, vamos comer a terra
que a seca amassou
vamos trazer para dentro
das quatro paredes
estes cavacos, encher os obscuros
buracos da sombra, alumiar a casa
com o lume e depois morrer
entre o vazio e a plenitude.
AS CARTAS
Eram cartas sem resposta
apenas num sentido, como as raízes
irrompem da terra na flor vertical
impossíveis de responder, as cartas
ardiam no pergaminho, como a sarça
a viver num fogo celeste
e sem peso
vertiam-se na voz de quem as lia
o céu está nas cartas, é um lugar
na terra, em Corinto ou em Éfeso.
O QUE DISSERAM OS COMPANHEIROS DE EMAÚS
Percorreste os nossos ouvidos
para encontrar um recanto
para o Amor
as palavras que abriam clareiras
na vasta linha da noite
As Tuas palavras foram amaciando a noite
foram dando asas ao chão
do caminho de Emaús
que pisavamos na noite
o Teu invisível fogo
das palavras, que depois à mesa
se transformaram em pão
e aí os nossos olhos entenderam.
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