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segunda-feira, abril 01, 2019

Um sermão sobre a Poesia - Israel Belo de Azevedo



POESIA: VIDA E ADORAÇÃO
(Salmo 104)
Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 11.3.2001 (noite)

http://www.prazerdapalavra.com.br


1. INTRODUÇÃO
A linguagem humana tem sido empobrecida pela ausência da poesia.
Num mundo marcado pelo imediatismo e pelos artefatos da tecnologia microeletrônica, há poucos espaços para a imagem poética, necessariamente profunda e às vezes aparentemente sem utilidade. No entanto, os poetas são mais importantes que os desenvolvidos pelos criadores de tecnologia, que nos fazem fruir a vida, mas não nos ajuda a entendê-la.
Podemos dizer que a poesia ficaria relegada a livros de tiragens ridículas, não fosse a música, que tem sua poesia própria (a melodia) e se encontra com a poesia propriamente dita através das letras usadas. As canções, no entanto, são poesia, mas um outro tipo de poesia.
No meio cristão, passamos pela mesma experiência. A poesia vem perdendo espaço, mantida por meio dos hinos, que também são um tipo de poesia. Nós somos um povo musical, como o de Israel o era, como nos lembra o profeta Amós: Vocês fazem músicas como fez o rei Davi e gostam de cantá-las com acompanhamento de harpas. (Amos 6.5)  

2. ENRIQUEÇAMO-NOS COM A IMAGINAÇÃO POÉTICA
Não podemos, diante deste quadro, nos esquecer que a Bíblia, o livro pelo qual pautamos as nossas vidas, é um livro de expressão poética. Se não entendermos esta sua característica, teremos dificuldade para ouvir Deus falando.
Tomemos alguns dos grandes salmos.
O salmo 1 não diz simples que a felicidade consiste em viver de forma reta diante de Deus, mas usa imagens para descrever os ímpios e para pintar os justos. Assim,

Bem-aventurado o homem que
não anda no conselho dos ímpios,
não se detém no caminho dos pecadores,
nem se assenta na roda dos escarnecedores.

Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas,
que, no devido tempo, dá o seu fruto,
e cuja folhagem não murcha;
e tudo quanto ele faz será bem sucedido.
(Salmo 1.1,3)

A pessoa temente a Deus não é uma árvore, mas é como se fosse, diz-nos a poesia.

O salmo 19 retrata a glória do Senhor com imagens poéticas majestosas:

Os céus proclamam a glória de Deus,
e o firmamento anuncia as obras das suas mãos.
Um dia discursa a outro dia,
e uma noite revela conhecimento a outra noite.
Não há linguagem, nem há palavras,
e deles não se ouve nenhum som;
no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz,
e as suas palavras, até aos confins do mundo.
Aí pôs uma tenda para o sol,
o qual, como noivo que sai dos seus aposentos, se regozija como herói.
(Salmo 19.1-5)

Como o firmamento anuncia, se não tem boca? Como um dia discursa, se não tem língua? Como a natureza, que não tem som, faz ecoar a palavra de Deus? Como pôr uma tenda para o sol?

O salmo 23 é poesia pura, desde o princípio.

O Senhor é o meu pastor;
nada me faltará.
Ele me faz repousar em pastos verdejantes.
Leva-me para junto das águas de descanso;
refrigera-me a alma.
Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome.
Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte,
não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo;
o teu bordão e o teu cajado me consolam.
(Salmo 23.1-4)

O que é repousa em pastos verdejantes e ter um pastor, se não somos gado? O que é ser guiado pelas veredas da justiça? Como receber consolo de um bordão e de um cajado?

Estes poucos exemplos bastam para mostrar que não dá para entender alguns capítulos senão com a imaginação. Precisamos, portanto, de imaginação poética para fruir melhor a Bíblia. Se não, como admiremos também a existência de uma sarça que não se consome ou de uma estrela que percorre o firmamento para guiar os magos? Se não, como entenderemos a oração de Jesus pedindo pela passagem do cálice? Como entenderemos a descrição que o livro de apocalipse faz do céu? como uma

Cidade Santa, a nova Jerusalém, que descia do céu.
Ela vinha de Deus, enfeitada e preparada,
vestida como uma noiva que vai se encontrar com o noivo, (...)
brilhando com a glória de Deus.
A cidade brilhava como uma pedra preciosa,
como uma pedra de jaspe, clara como cristal.

[Nela, não havia templo,]
pois o seu templo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, e o Cordeiro.
A cidade não precisa de sol nem de lua para a iluminarem,
pois a glória de Deus brilha sobre ela,
e o Cordeiro é o seu candelabro.
(Apocalipse 21.2, 11, 23, 23)

Só podemos usufrir da riqueza do livro de Apocalipse por meio da imaginação poética, a mesma que Deus inspirou a autor bíblico.
Nem todos precisamos ser poetas, mas todos precisamos de um pouco de imaginação poética para penetrar na riqueza da Palavra de Deus.

3. VALORIZEMOS A EXPRESSÃO POÉTICA
A poesia é uma das formas mais apropriadas para se falar da vida. Os livros de Jó, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos são uma demonstração viva desta realidade.
Há na Bíblia expressões poéticas acerca do sofrimento, como esta:

A minha harpa se me tornou em prantos de luto,
e a minha flauta, em voz dos que choram.
(Jó 30:31)

Há, na Bíblia, inclusive expressões poética de exaltação ao amor erótico, entre um homem e uma mulher, como em Cântico dos Cânticos, uma das quais sendo a seguinte:

O inverno já foi, a chuva passou, e as flores aparecem nos campos.
É tempo de cantar; ouve-se nos campos o canto das rolinhas.
Os figos estão começando a amadurecer,
e já se pode sentir o perfume das parreiras em flor.
Venha então, meu amor. Venha comigo, minha querida.
(Cântico dos Cânticos  2.11-13:)

A poesia é uma das formas mais adequadas para se falar de Deus e para se exaltar a sua excelsitude para conosco. O que é o seu nome "Emanuel" se não uma expressão poética? Como um Deus pode se apresentar como "Eu sou o que sou", se não pela imaginação poética. Os salmos, uns musicados (e é pena que tenhamos perdido as suas melodias), outros não, são essencialmente cânticos de louvor, isto é, exaltação, a Deus. Nós os apreciamos porque falam de nós mesmos, nossas dores e dúvidas, mas também porque falam de Deus, de sua glória, isto é, de sua beleza, e de sua graça, de seu amor para conosco.
Um dos pontos altos da expressão poética do Antigo Testamento é o salmo 104, todo escrito em forma de imagens poéticas.

Bendize, oh minha alma, ao Senhor!
Senhor, Deus meu, como tu és magnificente:
sobrevestido de glória e majestade,
coberto de luz como de um manto.
Tu estendes o céu como uma cortina,
pões nas águas o vigamento da tua morada,
tomas as nuvens por teu carro e voas nas asas do vento.
Tomaste o abismo por vestuário e a cobriste;
as águas ficaram acima das montanhas;
à tua repreensão, fugiram,
à voz do teu trovão, bateram em retirada.
Elevaram-se os montes,
desceram os vales, até ao lugar que lhes havias preparado.
Que variedade, Senhor, nas tuas obras!
Todas com sabedoria as fizeste;
cheia está a terra das tuas riquezas.
Todos esperam de ti que lhes dês de comer a seu tempo.
Se lhes dás, eles o recolhem;
se abres a mão, eles se fartam de bens.
Se ocultas o rosto, eles se perturbam;
se lhes cortas a respiração, morrem e voltam ao seu pó.
Envias o teu Espírito, eles são criados,
e, assim, renovas a face da terra.
A glória do Senhor seja para sempre!
Exulte o Senhor por suas obras!
Cantarei ao Senhor enquanto eu viver;
cantarei louvores ao meu Deus durante a minha vida.
Seja-lhe agradável a minha meditação;
eu me alegrarei no Senhor.
(Salmo 104.1-3,6-8,24,27-31,33,34)

Os poemas de exaltação a Deus nos levam à Sua presença, para contemplar a Sua glória:

Oh profundidade da riqueza,
tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus!
Quão insondáveis são os seus juízos,
e quão inescrutáveis, os seus caminhos!
Quem, pois, conheceu a mente do Senhor?
Ou quem foi o seu conselheiro?
Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído?
Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas.
A ele, pois, a glória eternamente.
Amém!
(Romanos 11.33-36)

Não há, portanto, uma dicotomia entre poesia e fé. A fé diz "eu creio em Ti, Senhor "; a poesia crente anota: "meu coração se lança sobre as tuas costas, Senhor".
A fé afirma: "guarda-me, Senhor"; a poesia bíblica escreve: esconde-me à sombra das tuas asas (Salmo 17.8).
A fé exalta: Como é preciosa, oh Deus, a tua benignidade! a poesia aprofunda: Por isso, os filhos dos homens se acolhem à sombra das tuas asas. (Salmo 36.7)
A fé pede: Tem misericórdia de mim, oh Deus, tem misericórdia; a poesia consagrada enriquece: pois em ti a minha alma se refugia; à sombra das tuas asas me abrigo, até que passem as calamidades. (Salmo 57.1)
Para que usufruamos da poesia enquanto expressão de nossos sentimentos e desejos mais profundamos precisamos valorizar a expressão artísticas, precisamos nos educar para a poesia, precisamos nos expressar por meio da poesia.

1. Precisamos valorizar a expressão poética.
Cada um de nós deve buscar formas artísticas para expressar nossos sentimentos (de tristeza e de alegria), nossos desejos e nosso louvor.
A Bíblia reconhece o valor da expressão artística, e um dos exemplos está no livro de Samuel. E sucedia que, quando o espírito maligno, da parte de Deus, vinha sobre Saul, Davi tomava a harpa e a dedilhava; então, Saul sentia alívio e se achava melhor, e o espírito maligno se retirava dele. (1 Samuel 16:23)
Você está triste, ouça uma canção que anime o seu coração. Você está agitado, entre numa galeria de arte ou numa exposição para ver as obras dos outros.
Você está com a auto-estima lá embaixo? leia o poema 8 do livro dos salmos. Você está excessivamente autoconfiante? leia o poema de Paulo aos filipenses (capítulo 2).

2. Precisamos nos educar para a poesia.
Para fruir a poesia, temos que nos educar para a poesia. Precisamos entender que a poesia é uma outra maneira de dizer as coisas. Precisamos reconhecer que ler poesia nos torna menos duros, menos amargos, menos pesados; mais sensíveis, mais agradáveis e mais leves.
Educando-nos para a poesia, leremos melhor e escreveremos melhor; mais que isso, entenderemos melhor a Palavra de Deus a nós.
Para tanto, leiamos a poesia bíblica, leiamos a poesia secular (principalmente brasileira), leiamos a poesia evangélica (embora escassa).

3. Precisamos nos expressar por meio da poesia.
Só ela nos permite dizer o que não cabe na boca nem no discurso narrativo.
A poesia é bonita de mais para ficar só com os poetas. A poesia é profunda demais para ficar só com os poetas não cristãos.
Precisamos escrever poeticamente. A poesia cristã precisa estar nos livros, nas praças e nos teatros. Precisamos de poesia cristã de qualidade, mesmo que perca parte de seu didatismo ou homiletismo.
Aos poetas jovens, de qualquer idade, leiam muita poesia e escrevam. Escrevam muito, reescrevam muito. Sejam humildes e ousados, ao mesmo tempo. Sejam os melhores poetas. Orem a Deus em busca de inspiração. Vejam o que os outros fazem e façam melhor.

4. CONCLUSÃO
O mundo precisa de poesia. Vamos dar poesia ao mundo. A poesia também se ressente da corrupção do gênero humano. Nós podemos falar da redenção, também sob a forma poética.
Foi o que o apóstolo Paulo fez no grande teatro ao livre de Atenas. Depois de ver as expressões poéticas do povo, espalhadas pelas ruas e pelos templos, ele assim se expressou:

Esse que adorais sem conhecer
é precisamente aquele que eu vos anuncio.
O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe;
sendo ele Senhor do céu e da terra,
não habita em santuários feitos por mãos humanas.
Nem é servido por mãos humanas,
como se de alguma coisa precisasse;
pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais;
de um só fez toda a raça humana
para habitar sobre toda a face da terra,
havendo fixado os tempos previamente estabelecidos
e os limites da sua habitação;
para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar,
bem que não está longe de cada um de nós;
pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos,
como alguns dos vossos poetas têm dito:
"Porque dele também somos geração".
Sendo, pois, geração de Deus,
não devemos pensar que a divindade
é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra,
trabalhados pela arte e imaginação do homem.
(Atos 17.24-29)

O cristianismo precisa de poesia. Paulo, para nos ensinar o sentido da vida, sentido da vida que muitos cristãos temos perdido, nos abençoa com as seguintes palavras, carregadas de poesia:

Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado
com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo,
[Ele] assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo,
 para sermos santos e irrepreensíveis perante ele;
e em amor nos predestinou para ele,
para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo,
segundo o beneplácito de sua vontade,
para louvor da glória de sua graça,
que ele nos concedeu gratuitamente no Amado,
no qual temos a redenção, pelo seu sangue,
a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça,
que Deus derramou abundantemente sobre nós
em toda a sabedoria e prudência,
desvendando-nos o mistério da sua vontade,
segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo,
de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos,
todas as coisas, tanto as do céu, como as da terra;
[pois em Jesus] fomos também feitos herança,
predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas
conforme o conselho da sua vontade,
a fim de sermos para louvor da sua glória,
nós, os que de antemão esperamos em Cristo;
em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade,
o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido,
fostes selados com o Santo Espírito da promessa;
o qual é o penhor da nossa herança,
ao resgate da sua propriedade,
em louvor da sua glória.
[Ele] pôs todas as coisas debaixo dos pés,
e para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja,
a qual é o seu corpo,
a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas.
(Efésios 1.1-14, 22-23)

ISRAEL BELO DE AZEVEDO

sábado, maio 20, 2017

Um poema de Ella Wheeler Wilcox


GETSÊMANE

Ella Wheeler Wilcox (1902)

Tradução de Israel Belo de Azevedo


Na áurea juventude quando cada dia
parece um verão sem fim de alegria,
quando as almas riem no coração brilhante
e nenhuma sombra espreita no horizonte,
precisamos todos disto saber:
existe, escondido sob os céus da noite,
um jardim que todos devemos ver:
o jardim do Getsêmane.

Com passos firmes fazemos nossos caminhos,
o amor empresta perfume aos nossos dias,
leves tristezas navegam como nuvens distantes,
sorrimos e dizemos que somos bastantes,
apressamo-nos e, apressados, nos pomos em ação
até alcançar a fronteira da aflição
que espera por ti e espera por mim,
pois sempre nos espera o Getsêmane.

Em veredas sombrias ao longo de estranhos córregos atavessados
por nossos sonhos despedaçados,
aquém dos obscuros chapéus dos anos,
além da grande fonte salgada das lágrimas,
está o jardim. Não importa o quanto venhas lutar,
não podes evitá-lo em tua jornada.
Todos os caminhos, trilhados ou a trilhar,
passam em algum ponto do Getsêmane.

Todos os que vivem, cedo ou no fim,
passarão pelo portão do jardim
e ali sozinhos se ajoelharão
e com feroz desespero contenderão.
Misericórdia, Senhor, dos que não podem dizer
"Não a minha, mas a tua", dos que apenas oram
"Passa de mim este cálice", mas não podem ver
o propósito do Getsêmane.


(Poems of Power. Chicago : W. B. Conkey, 1902).
Via Prazer da Palavra

sexta-feira, julho 08, 2016

Três poemas de Israel Belo de Azevedo



FAMÍLIAS QUE VENCEM

Benditas são as famílias que apreciam das horas o movimento,
o tempo que juntos passam no sorriso do contentamento
Ou à espera de uma longamente desejada libertação.
 
Grandes são as famílias que aprenderam a arte de juntos sonhar,
Sabendo que o melhor que podem pelo outro fazer
é diante do medo o seu progresso estimular.

Santas são as famílias que cultivam acreditar
Que Deus em seu alto pensamento quer
De cada um e de todos (e)ternamente cuidar.
 
Felizes são as famílias que vencem no padrão
De Jesus Cristo, onde não há nenhuma competição,
Porque o sucesso de um é do outro complemento.
 
Seus laços de sangue a história de vez não corta
E a geografia, mesmo sinuosa, não é distância que importa.
São heranças vivas mantidas pela paixão.
São desejos perenes protegidos pela oração.
 
Vencedoras são as famílias que se portam assim:
Se chega a doença, o desvelo permanece à porta.
Não desistem se o desvio a algum  tristemente toca.
Acompanharão, cuidarão e amarão até o fim.


O PERFUME DA CRUZ

Do pomar das muitas frutas plantadas
para conhecimento e nutrição
escolheu o homem a única indevida
para selar sua partida
e deixar clara sua rejeição
à palavra divina que traz plena vida.
 
Seu pecado não foi escolher a liberdade:
livre já o era no nascimento.
Seu crime foi escolher a prisão,
seduzido por um sorriso de fingimento
deixado depois da tentação
na senda solitária do sofrimento.
 
Mas Deus, que o verbo da desistência
não conhece e não conjuga em seu coração,
fez nascer no pomar da primeira existência
a planta pequena da paz,
a que desabrocha em forma de reconciliação
e de inimigos amigos fieis faz.
 
Ao longo dos milênios dos dias havidos
uma semente germinava aqui
para ser morta ali
e não dar o fruto da restauração,
o único que, comido, vida faz produzir
e transforma o desencontro em comunhão.
 
Na plenitude dos milênios tristes transcorridos,
do alto de um monte fora da cidade
arrebenta sobre as pedras uma flor.
Tem a forma de uma cruz.
Tem a força de uma cruz.
Tem o peso de uma cruz.
 
Ela suporta a forma de um homem.
Ela guarda a força de um homem.
Ela resiste ao peso de um homem.
 
Nela, o homem justo vindo do céu é cravado
por homens que não sabiam o que faziam.
Não lhes importa que o seu sangue jorre.
(Não passa ele de um dócil animal de sacrifício.)
Não lhe interessa que o sol forte torre
o seu corpo, com uma luz firme e um pesado calor.
Melhor será quanto maior for a sua dor.
 
A cruz, não parece, mas é Deus em ação.
Cheia quando espoucava a luz do dia, 
mas, quando a noite se punha, vazia,
a cruz tem raízes fundas no chão,
que se espalham até o túmulo da ressurreição,
Tem raízes que atravessam a nuvem sombria
diante das testemunhas tantas da ascensão.
 
Como os homens que olharam, no deserto,
para a haste de metal e foram perdoados,
podemos olhar para ela e receber o abraço
em que Deus nos mostra quem somos: filhos amados.
A cruz, com a ressurreição, é o Pai perto.
A cruz é a cesta de aromas sobre nós lançados
para da culpa nos livrar até o último traço.


O CONVITE DE JESUS

Não quero crianças silenciosas na igreja;
que corram, desde que conosco estejam;
sua presença é brisa saltitante que bafeja
a renovação da vida que o Pai sempre dá.

Não quero caras feias diante do choro
dos bebês, que não é escandaloso
como a melodia que estala do dedo raivoso
de quem, crescido, só quer "disciplinar".

Quero uma igreja que seja amplo lar
para as que, não tendo em quem se apoiar,
amadas, se sintam livres para desejar,
amando como eu gosto: até o fim.

Não quero uma igreja em que o martelo
esteja na mão para quebrar.

Quero uma igreja que seja castelo
onde todo garoto possa se abrigar.

Quero uma igreja que, se tiver labirinto,
seja só de brincadeira para a menina brincar.

Deixem vir os que não têm pressa.
Que a religião não os impeça
de participar felizes na festa
do Reino que vim inaugurar.

Venham, pequenos, vou lhes contar uma história
do jeito que minha mãe me contava:
"Era uma vez um pai que ao seu filho amava.
Assim mesmo o menino decidir ir embora.
Pensam que o Pai deixou de aguardar sua volta?
Depois de muitas noites, em que o Pai o esperava,
o rapaz chegou. Cheio de medo, mal andava.
E o Pai o recebeu tão gostoso com um banquete
que não durou só um dia, mas toda a madrugada".


domingo, março 20, 2016

21 de março - Dia mundial da poesia


Viva a poesia!
Pragmatismo faz mal à saúde.
O pragmático é aquele que só aprecia retas, por achar inúteis as curvas.
O objetivo é aquele que vê a vida pelos óculos das cifras e das fórmulas, alheio ao êxtase das metáforas.
O positivo é aquele que admira os textos didáticos, informativos, programáticos, imperativos, achando-se superior aos que se deliciam com textos cujo beleza ofusca o conteúdo, porque para ele só o conteúdo importa.
O prático é aquele que orienta a sua vida pelos resultados, percebidos na apostila que resume tudo (mas não convida a pensar), no livro cheio de gráficos que dispensam a imaginação, no teatro que ensina alguma coisa, no curso que gera dinheiro (mas não riqueza).
Pensei nisto depois de me encontrar com a conclusão de uma pesquisa inglesa, segundo a qual ler poesia é mais útil do que ler livros de autoajuda, já que acrescenta elemento emocionais e autobiográficos ao conhecimento cognitivo.
E, ao pensar nisto, olho para as dezenas de livros de poesia diante de mim na estante e me lembro que o primeiro que ganhei e li, menino, era de poesia e o segundo, de ficção. Vieram fazer companhia à Bíblia, que cultiva todos os gêneros, sobretudo o poético. Eles me formaram.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO

quarta-feira, março 24, 2010

ORAÇÃO DA SUBMISSÃO

*

"Quando tu quiseste me conduzir,
eu tomei o controle da minha vida.
Quando tu quiseste me governar,
eu me dirigi a mim mesmo.
Quando tu quiseste cuidar de mim,
eu me bastei a mim mesmo.
Quando eu devia depender de tuas provisões,
eu me abasteci de mim mesmo.
Quando eu devia me submeter à tua providência,
eu segui o meu desejo.
Quando eu devia estudar, amar, honrar e confiar em ti, eu trabalhei para mim mesmo:
falhando e corrigindo as tuas leis
para concordarem comigo,
em lugar da tua, busquei a aprovação dos homens.
Eu sou por natureza um idólatra .
Senhor, meu maior desejo é levar meu coração
de volta a ti.
Convença-me que não posso ser meu próprio deus
ou me fazer feliz a mim mesmo,
nem ser meu próprio Cristo
para restaurar minha alegria,
nem ser meu próprio Espírito para me ensinar,
me conduzir e me dirigir.
Ajuda-me a ver que a tua graça
age por meio da aflição providencial,
para que, quando meu dinheiro for deus,
tu me jogues para baixo,
para que, quando meus bens forem meus ídolos,
tu os faças voar para longe,
para que, quando o prazer for tudo para mim,
tudo o tornes amargo.
Afasta-me do erro do olhar, da curiosidade do ouvido,
da avareza do apetite e da luxúria do coração.
Mostre-me que nada destas coisas
pode curar uma consciência ferida,
sustentar um esqueleto cambaleante,
segurar um espírito desviante.
Então, leva-me para a cruz e me deixe lá".


(Texto puritano anônimo do século 17, sob o título "Man a Nothing" [O homem não é nada]

Tradução de Israel Belo de Azevedo, in  http://www.prazerdapalavra.com.br/

sexta-feira, julho 17, 2009

ÁGUAS VIVAS - Antologia de Poesia Evangélica para download

*

Amados irmãos e leitores
, é com imenso prazer que trago até vocês mais uma antologia poética. ÁGUAS VIVAS é um e-book gratuito, uma antologia reunindo textos de 10 poetas evangélicos contemporâneos, apresentando autores relativamente pouco conhecidos ao lado de outros já consagrados, como o Pr. Israel Belo de Azevedo, Pr. Josué Ebenézer e o Prof. Noélio Duarte, membros Academia Evangélica de Letras do Brasil (AELB), e o bardo português João Tomaz Parreira, entre outros.

Leia alguns trechos da apresentação:

Águas Vivas, mais que uma simples antologia poética, nasce como um oportuno projeto, que visa a aproximar ainda mais leitores e poetas evangélicos contemporâneos. Por um lado divulgando a poesia evangélica e incentivando a produção de bons autores, e por outro, apresentando ao leitor um breve, mas significativo panorama da obra destes bravos bardos que têm na fé evangélica e no manejo das palavras o traço de sua união. E projeto ainda porque meu objetivo, se o Senhor assim o permitir, é organizar de tempos em tempos novos volumes desta antologia, contemplando a obra de muitos outros autores.
... ... ...
Tenha uma boa leitura, e sinta-se livre para compartilhar este livro eletrônico com seus amigos, irmãos e contatos, mas lembre-se: a obra não pode ser comercializada de nenhuma maneira, estando liberada sob uma licença Creative Commons.”

Em ordem alfabética, os autores que compõem este livro são: Brissos Lino, Gilberto Celeti, Giovanni C. A. de Araújo, Israel Belo de Azevedo, J. T. Parreira, Josué Ebenézer, Luiz Flor dos Santos, Noélio Duarte, Sammis Reachers e Wolodymir Boruszewski (Wolô).

São 163 páginas, em formato PDF. Para você baixar, divulgar e compartilhar à vontade.

Para baixar o livro pelo site Google Drive, Clique Aqui.
Para baixar o livro pelo site 4Shared, Clique Aqui.
_______________________________

Irmãos, estejam livres para reproduzirem este post em seus blogs, e/ou disponibilizarem este livro para download direto a partir de seus blogs e sites, sejam pessoais ou institucionais, sem a necessidade de prévia autorização.

Sammis Reachers, org.

sábado, março 07, 2009

08 de Março, Dia Internacional da Mulher: 3 poemas


Dia 08 de Março é comemorado o Dia Internacional da Mulher. Como homenagem, publicamos aqui estes três belíssimos poemas.


Elogio à mulher

(João 20)
O teu olhar para dentro da noite
é o olhar de quem busca a vida
e não teme o sepulcro.
A tua lágrima que salta de dentro
é a lágrima de quem perdeu
toda a luz que da alegria nasce.
A tua visão de dois anjos na noite
é a visão de quem enxerga o mistério
e ouve a sua voz em meio ao silêncio triste.
Soluça, mulher, maria , madalena,
que no fundo dos teus olhos
dois anjos proclamarão a manhã.
Chora, mulher, maria, madalena,
que nos intervalos dos teus soluços
ouvirás a palavra de quem procuras.
Mulher, reclama o corpo que roubaram.
Ladrões, para onde o levaram?
Mulher, de quem é esta voz que te olha?
De quem é este olhar que te chama?
Olha, mulher, e vê que é rosto do homem que querias morto.
E agora tu o chamas pelo nome das flores.
E agora tu o vês pela imagem das águas
antes que ele Deus todo seja
e marche para o azul ao encontro deste Pai
que se fez filho conosco
e se deixou enterrar nas horas das pedras
Tu o viste, não entre a reclusão das lápides,
nem a respirar a quietude dos troncos tombados,
mas a caminhar por entre as pétalas,
a ouvir o teu lamento sem luz.
Tu o viste, não a anunciar a vitória da noite,
nem a chorar a dor por quem partiu para sempre,
Mas a proclamar o sorriso suave
dos teus lábios,
tu que sorriste com ele
na mais feliz de todas as madrugadas:
quando a rocha se fendeu
e ele pôde enxugar da fronte o orvalho que anunciava a sua ressurreição.
Israel Belo de Azevedo, in http://www.prazerdapalavra.com.br


Nasce Uma Mulher

Em meio a tantas expectativas
Entre tantos sonhos e esperança
Eis que um choro de criança
De repente ecoa pelo ar...
E neste mesmo instante,
Surge num ponto qualquer
Uma voz firme e possante
Que diz: “É uma mulher.”
Nasceu! É pequenina e delicada,
Mas pelo nome de mulher é chamada.
E em todo tempo, por onde ela andar
Sempre alguém vai lhe chamar
Pelo sublime nome de mulher...
Mulher... Já nasce com identidade!
Carregando sobre si a responsabilidade
De ser feminina, graciosa e diferente.
Aquela que na batalha da vida é guerreira
E na hora mais difícil e derradeira
Tem sempre um sorriso para dar...
Nasce uma mulher... Mais uma entre tantas!
Mas é única, é ímpar, é a primeira.
Aquela que o Senhor deu por companheira
Ao homem que tão só, no paraíso vivia.
Então, ...ela encheu a sua vida de alegria
E como as flores, sublime tornou o seu viver
Ela nasce e floresce para ao mundo trazer
O seu doce perfume de mulher...

Norma Penido Bernardo, in Revista Visão Missionária , Ano 87, Número 1 (UFMBB)



Mulher Como Esta...

Para tal tempo, em dias como estes,
foste chamada por Deus pra neste mundo
ser testemunha rica e altissonante
como pessoa, filha, esposa e mãe!
Para tal tempo, em dias tão sombrios,
de ódio e tristeza e muito desamor,
tu podes semear em muitas vidas
as bênçãos do amor e compaixão.
Para tal tempo de conturbação.
Deus exige de ti dedicação;
no lar, na igreja, em qualquer lugar;
podes ser uma bênção, um traço de união.
Em tempos de descrença e de pavor
é isto o que te pede teu Senhor:
um coração cheio de fé ingente.
Voltado sempre pra teu reino eterno.
Os caminhos são muitos, a estrada é longa,
muitas vezes deserta, tortuosa,
e sempre, sempre mostrará valor
de uma vida separada pra servir.
Jamais teus olhos fugirão do alvo,
do ideal de Deus pra teu viver;
erguerás marcos em cantos de vitória,
edificando em santidade e luz.
Serás mulher de fé, tal qual Ana,
“Valorosa e prudente como Ester”,
tão doce e pura e bem-aventurada
como Maria, a mãe do Salvador.
De geração em geração teus filhos
te chamarão bem-aventurada.
Mulher como esta, filha, esposa e mãe,
recebe a aprovação do teu Senhor.
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Andrônica Borges Alcântara, in Revista Visão Missionária , Ano 87, Número 1 (UFMBB)
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