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domingo, junho 29, 2008

Um poema de Oséas Heckert


Pai nosso que estás em todo lugar...

Pai,
penitente promitente
quero (de)votar-te exclusiva dedicação:
nada tomará teu lugar em meu coração;
nem imagem de escultura,
nem figura ou representação
de qualquer criatura
ou perversa estrutura
receberá minha adoração;
nem qualquer ocupação,
ou sequer preocupação,
terá maior atenção.

Prometo santificar o teu nome
e não usá-lo em futilidade;
prometo buscar a santidade,
a cada dia satisfazer tua vontade,
para que teu reino se realize
e concretize em minha vida.

Prometo honrar minha família,
para vivermos sem quizília*
e desfrutarmos em santa paz
o pão cotidiano que nos dás.

Perdoa as minhas dívidas,
desculpa minhas dúvidas,
aumenta-me a fé e o amor
pra ser clemente ao devedor,
e o meu zelo para fazê-lo
quantas vezes preciso for.

Não me deixes cair em tentação;
protege-me do círculo vicioso
de ouvir a lorota do impiedoso,
deter-me na rota dos pecadores,
e sentar-me à roda com zombadores.

Ensina-me a não prejulgar o próximo,
não proferir fortes palavras de morte,
nem agir como algoz ou juiz.
Ao contrário de arbitrário,
permite-me fazer por ele o máximo
para que tenha vida longa e feliz.

Dá-me o prazer do sexo
conexo a seu contexto devido
para eu não ficar de olho comprido
e lascivo no flerte solerte,
a pretexto da grama mais verde
do outro lado da cerca.

Acerca da grana que engana,
perdoa-me a gana e a ansiedade;
dá-me o necessário suficiente
pra viver com dignidade
e acudir o mais carente;
não demais, para que farto te renegue,
nem de menos, para que sonegue
ou que no furto alguém me pegue.

Perdoa minha omissão:
fiz-me negligente e mudo
ante a exploração dos sem-nada:
cada pobre, órfão, viúva, estrangeiro.
Requeiro, dá-me prontidão
para erguer a voz e me colocar
em defesa dos desprovidos de tudo.
Faze-me, contudo,
moroso pra maldizer e fofocar...

Livra-me de ficar de olho grande
nas pequenas coisas de alguém,
ou cobiçoso das grandes, também.

Não peço redoma ou regalia,
mas a tua companhia,
todavia, em toda via.

Livra-me do mal
de retribuir mal com mal.
Ensina-me a amar,
meus amigos e inimigos,
e a exalar o teu aroma.

No "pleroma"** de tua luz,
conduz meu caminhar imperfeito,
brilhando cada vez mais
até ser um dia perfeito.

Notas
* Conflito de interesses; briga, rixa
**Plenitude


FONTE: Revista Ultimato, Março/Abril 2008.
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