Mostrando postagens com marcador Brissos Lino. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Brissos Lino. Mostrar todas as postagens

sábado, maio 08, 2021

Vestígios de Azul, livro de poemas de José Brissos-Lino

Publicado em 2019, Vestígios de Azul é uma das mais recentes coletâneas de poemas do lusitano José Brissos-Lino, pastor, escritor, professor e articulista presente em diversos veículos de informação, seja em Portugal ou no Brasil.

Com prefácio do saudoso poeta J. T. Parreira, de quem Brissos foi sempre amigo próximo, a obra verseja as vivências e percepções do autor por um suave prisma que as decompõe  em diversas tonalidades, seja do azul que dá nome ao livro, seja de cores outras, feitas de ternura e saudade, de calma celebração e rica fruição poiétika.

Aqui, três dos poemas do livro:


ESTE AZUL

 

Este azul mata-me de prazer

com todos os sorrisos de que for capaz

sem sombras escuras nem recantos húmidos

invade os olhos claros do dia assombroso e limpo

 

abre todas as portas toscas e pesadas

artilhadas com velhos ferrolhos medievais

de castelos imaginários

dos senhores e cavaleiros ruidosos que se insinuam

na arte da lenda

concedendo o inefável

o prazer supremo

de um culto sagrado sem cálice de prata

nem salvas de ouro

 

e sou atalaia entre ameias

já moribundo de azul.

 

 

FOI ASSIM A SALVAÇÃO

 

Foi assim a Salvação. Um Menino

desceu aos homens

com a paz na algibeira

e estrelas na boca

enquanto uns olhos de sol e de lua

lhes aqueceram os dias

e os sonhos

para sempre.

 

 

A OLIVEIRA VERDE

"Sou como a oliveira verde na casa de Deus" (Livro dos Salmos)

 

sou como a oliveira verde

saudável, frutífera

acendo o dia dentro de casa

tempero a mesa

unjo reis e sacerdotes

e tiro o medo das portas que gemem

no silêncio da noite escura

 

na casa do meu Deus

estou firmemente plantado

em chão de misericórdia

o orvalho da confiança escorre-me

pelas folhas.


segunda-feira, abril 13, 2020

Das Árvores e Suas Margens, novo livro de José Brissos-Lino para download


"As árvores e arbustos que vão surgindo ao longo dos textos bíblicos, tanto no Antigo como no Novo Testamentos, constituem riquíssima fonte de inspiração poética e contêm alto significado espiritual, teológico e também simbólico. “Das árvores e suas margens” procura aflorar levemente esse vasto mundo de significações e representações, particularmente no que respeita ao universo da fé cristã. 
Este livro é composto por um conjunto de vinte e um poemas inéditos que se movem no âmbito desta temática. Afinal de contas, a Criação nunca deixará de inspirar esses loucos, os poetas." 
O autor

PARA BAIXAR O LIVRO, CLIQUE AQUI.

sexta-feira, julho 26, 2019

ÂNSIA DE ETERNIDADE - E-book de José Brissos-Lino para download


A presente obra reúne um conjunto de pequenos poemas dispersos sobre temática espiritual e religiosa, escritos ao longo de alguns anos e ainda não publicados em livro.
As questões da fé e da eternidade, a revisitação de figuras, imagens e episódios bíblicos, em particular os tocantes às temáticas da transcendência e da relação com Deus, pairam claramente sobre a paisagem poética aqui apresentada, assim como alguns exercícios livres de meditação ou elevação (chamemos-lhe assim).
No fundo trata-se do discurso poético de um homem de fé, desenvolvido mais em jeito de reflexão pessoal. E o que é a Poesia senão isso?
Como bem dizia Miguel de Unamuno “acreditar em Deus é antes de mais e sobretudo querer que ele exista” (Do Sentimento Trágico da Vida, 1913).
É por isso que esta obra pode constituir inspiração significativa para quem for capaz de a saber ler, e elevação espiritual para quem aspira à eternidade e sente que ela está a passar por aqui.
O Autor
Para realizar o download do livro pelo site Google Drive, CLIQUE AQUI.

sexta-feira, julho 05, 2019

Saiu a terceira edição de AMPLITUDE - Revista Cristã de Literatura e Artes. Baixe a sua!


        Assustadores três anos se passaram, lentos ou esvoaçantes, a depender do ponto de quem observa. AMPLITUDE entrou em seu anunciado hiato, devido aos hercúleos e clichés motivos de força maior. Mas eis-nos aqui, redivivos, ressurretos como convém a co-herdeiros de Cristo.
       Em tempos de secularização acelerada, relativismo e perseguição crescente, a nível local e global (glocal) do cristianismo, usemos a arte para congregar-nos, estreitar nossa união e fortalecermos nossa posição em Cristo, a favor da paz e a favor da vida: Eis a razão de ser desta revista.
      AMPLITUDE é uma revista de posição e cosmovisão declaradamente protestante; no entanto, somos amplos em nossa irmanação criativa com nossos co-navegantes do mistério do Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Assim, temos na seção Hot Spots um pouco do pensamento desconcertante do anglicano-depois-católico G. K. Chesterton. Publicamos ainda a Carta aos Artistas, significativa missiva escrita por Karol Wojtyła, o papa João Paulo II. E ainda, pontuando toda a edição, o leitor encontrará pequenos textos e fábulas do imaginário hebraico.
        AMPLITUDE pretende dar voz ao que não pode falar, e alumiar onde a luz cambaleia. Nesta edição, (per)seguimos nossa proposta, a mesma que adotamos, há anos, à frente do blog Poesia Evangélica, que é dar voz preferencialmente a autores que ainda não publicamos. Acreditamos que assim se constroem cenários e panoramas, se fortalecem movimentos e autores e educa-se o leitor para deleitar-se na sinfonia de vozes díspares.
        Esta edição é nossa recordista em contos, com mais de dez autores presentes. Destaque para a seção Jardim dos Clássicos, onde Honoré de Balzac apresenta um Jesus algo contracultural numa Flandres de séculos pretéritos.
        E seguimos com as seções: Crônica, com uma reflexão de John Piper;Cinema, com notícia do VII Festival de Cinema Cristão; HQ, com os quadrinhos de Vestígia e Caio, o Pardal Pensativo; Galeria, com a arte terna/dilacerante de Charles Criador; Luminares, nesta edição apresentando obras de missionários que se dedicam às artes plásticas.
        Na poesia, traduzimos para esta edição poetas protestantes de diversos países ibero-americanos; por sinal, o Poeta em Destaque é também de fala espanhola: o insigne Alfredo Pérez Alencart. Ainda nesta edição, poemas longos de Israel Belo de Azevedo e José Manoel Ribeiro somam-se aos textos poéticos de muitos outros autores (e a um toque inesperado de poesia visual).
        Não deixe de deleitar-se com as 100 Citações sobre a Arte, na página 19. E, se tiver paciência, publicamos ainda um artigo sobre antologias e antologistas(com o perdão do ranço acadêmico, que de maneira nenhuma é o foco de Amplitude).  Ainda as seções: Notas CulturaisResenhas, e, sempre terminando a revista, as citações selecionadas de Parlatorium.
        Tenha uma boa e edificante leitura, ainda que a edificação passe por alguma perturbação do status quo que pode estar inadvertidamente embotando seus passos. E compartilhe esta revista, que é gratuita, com outros irmãos ao seu alcance.

Sammis Reachers, editor

PARA BAIXAR A REVISTA PELO SITE GOOGLE DRIVE, CLIQUE AQUI.

Caso não consiga realizar o download, você pode solicitar o envio do arquivo por e-mail, escrevendo para:  sreachers@gmail.com

domingo, outubro 09, 2016

Antologia Poética da Revista BARA para download


A Revista portuguesa BARA foi, durante muitos anos, o órgão de expressão maior da Associação Evangélica de Cultura. Tendo sua primeira edição em 1979, um ano após a fundação da Associação, o periódico foi veículo para textos poéticos, desenhos e ilustrações, estudos e reflexões as mais diversas, da lavra de uma excelente geração de autores, tais como João Tomaz Parreira, José Brissos-Lino, Samuel Pinheiro, Jorge Pinheiro, Clélia Inácio Mendes e outros.

Aqui, disponibilizamos para download, em reprodução fac-símile, a edição especial da revista, intitulada de Antologia Poética. Nas palavras de Jorge Pinheiro, "para além dos referidos poemas, a Antologia oferece uma série de textos sobre a temática da poética, entre eles o magnífico ensaio da autoria de Tomaz Parreira sobre Bocage (A Essência Espiritual do Pensamento Bocagiano), que o autor apresentara dois anos antes no Congresso Juvenil das Assembleias de Deus realizado em Setúbal. Mas a Antologia não se ficou apenas pela poesia e pelos textos de análise – incluiu também desenhos de artistas evangélicos vários."

Ao final da revista, a título de apêndice, um texto de esclarecimento sobre a relevância e abrangência da Associação Evangélica de Cultura e da própria BARA.

Para realizar o download pelo site Google Drive, CLIQUE AQUI.
Para realizar o download pelo site Scribd, CLIQUE AQUI.
Para realizar o download pelo site 4Shared, CLIQUE AQUI.

Outros textos publicados nas edições da Revista BARA podem ser baixados a partir do grupo BARA - Associação Evangélica de Cultura, no Facebook. Acesse AQUI.


terça-feira, maio 03, 2016

Dois poemas de Brissos Lino

Lorenzo Quinn, "Mão de Deus"

Homens

"Somos apenas pó e trevas"
Horácio

À superfície
deste corpo vegetamos
e escrevemos da nossa mágoa
litros de lágrimas de sangue
com penas leves de sombra

temas
sólidos que nos aprofundam
os olhos incolores

o sabor impuro
que nos desce à boca
é o rasto
do pensamento

mas somos reis a rasgar as vestes
se a Mensagem que acolhemos nos sitia
entre muralhas de silêncio

e os cardos do nosso orgulho
sufocam a boa semente
que nos lança Deus ao coração.


Desertos

Nenhuma manhã os habitava

os seus dedos nunca passavam
de sombras simples

só no fim se recordaram
que Tu existes
e então choraram
o devoto afastamento dos seus olhos.

Fonte: Arquivo Revista BARA (Portugal).

terça-feira, janeiro 28, 2014

J.T.Parreira entrevistado por Brissos Lino - 40 anos do Manifesto pela Nova Poesia Evangélica

388669_10150442758549683_899023720_n
Entrevista publicada pelo blog Salmo Presente, do escritor e poeta lusitano Brissos Lino, com nosso professor João Tomaz Parreira.
Cumprem-se, dentro de dias, quarenta anos sobre a publicação do Manifesto por uma Nova Poesia Evangélica (NPE), simultaneamente no Brasil e em Portugal. Este documento histórico foi assinado no país irmão pelos poetas Joanyr de Oliveira, brasileiro (já falecido) e João Tomaz Parreira, português, e em Portugal também por Brissos Lino.
É tempo de fazer um balanço. Daí a longa entrevista a João Tomaz Parreira.

Entrevista de José Brissos-Lino (c)
Como historiaria o percurso da Nova Poesia Evangélica (NPE) em Portugal e no Brasil, a partir do Manifesto publicado em 1974, em conjunto com o poeta Joanyr de Oliveira?
Dê-me uns minutos para procurar nos meus arquivos da correspondência. Nada melhor do que este parágrafo de uma das cartas génese do Movimento, que me endereçou o poeta Joanyr, em Fevereiro de 1974. “Honrou-me sobremaneira a sua aquiescência em que lancemos um Manifesto, ou outro qualquer pronunciamento conjunto, em favor de uma Nova Poesia Evangélica” Os meus verdes anos deslumbraram-se e entenderam a proposta do poeta já consagradíssimo que era o Joanyr de Oliveira, que entreviu um intercâmbio criador entre poetas de inspiração religiosa, com o rótulo de poetas cristãos evangélicos, sobretudo modificador do discurso poético até aí vigente, modernizando-o, tornando-o fruto da criação constante e contínua porque a “poesia é negócio sério” e não apenas o versejar por “dor de cotovelo”, nas expressões humoradas de Drummond de Andrade.
Assim, o que resultou do Movimento e da Antologia de suporte que editamos, no Rio de Janeiro, foi um árduo trabalho que foi ganhando estrada com poetas novos, nesse tempo, como Brissos Lino (que assinou na primeira hora o Manifesto em Portugal), a Clélia Mendes, o Samuel Pinheiro e outros mais tarde no Brasil e no nosso país. Não posso esquecer aqui e agora, porventura, um dos mais próximos seguidores dos considerandos desse Manifesto, evidenciando a sua poesia no século XXI, o poeta Rui Miguel Duarte. Por isto considero que o Manifesto foi utilíssimo e continuará sendo, e cito aqui dois ou três nomes de poetas de confissão evangélica do Brasil, sabendo que há outros cujos nomes não me ocorrem agora: Samuel Costa, Rosa Jurandir Braz e, o mais jovem, Sammis Reachers, poeta e antologista, também esforçado e excelente editor de Poesia.

S Cacém2

Brissos Lino e J. T. Parreira em Santiago do Cacém, no Verão de 1975.


Considera que este Manifesto ainda permanece actual? Porquê?
Sim, actualíssimo. Verifico como leitor de poesia dita religiosa evangélica, ao longo destes 40 anos, que continua a haver um deficiente entendimento do que deve ser o discurso poético, a que regras de criatividade obedece, tendo em conta a estética moderna do trabalhar a palavra. Nesse Manifesto, a dado passo, diz-se o seguinte: considerando “que o apego a escolas ou correntes estéticas ultrapassadas vem comprometendo de modo muita vez irremediável o nível da poesia, notadamente a de conteúdo religioso e particularmente a da mensagem evangélica”.
Isto ainda acontece hoje e pior, como os meios ao dispor dos “poetas” ou, melhor dito, versejadores, são inúmeros, os blogues, os sites, a globalização da internet, piora a circunstância da má poesia. Dizia-se também que o “pieguismo” e o “derramado sentimentalismo”, “não dignificam a Arte”. Em 1974 como em 2014.
O citado “pieguismo latino”, citado no Manifesto, está definitivamente ultrapassado?
Não. Apesar de tudo, parece fazer parte do nosso ADN, e não anda longe da apreciação secular que Miguel de Unamuno fez de nós, ao chamar-nos “País das almas do Purgatório”.
Pensa que ainda faz sentido utilizar hoje, quarenta anos depois, a designação de “poesia evangélica”, uma vez que não parecem conhecidas designações como “poesia católica, ortodoxa ou muçulmana”?
Excelente pergunta. No decorrer destas quatro décadas tenho pensado nesse rótulo e verificado a falta desse enquadramento. Mas antes de chegar à resposta directa, deixe-me rodear a questão. Recentemente li um texto do poeta Octavio Paz sobre literaturas de fundação. Ele chamou, indirectamente, claro, a minha atenção para o facto de, quando se diz poesia chilena ou mexicana, estarmos perante um rótulo geográfico. O que deve contar são as tendências estéticas e intelectuais, como o Criacionismo ou o nosso Modernismo, por exemplo, como movimentos artísticos. Entende? Assim, “poesia evangélica” é um rótulo religioso, que pode ser decepcionante se o leitor não entender o discurso poético do autor, é um rótulo “geográfico”, se quisermos, que demarca uma região na inspiração poética e da formação religiosa do autor.
Todavia, “poesia evangélica” só subsiste se resistir a uma análise da teologia evangélica, e nenhum de nós ao escrever um poema “dito evangélico” vai buscar os tomos da teologia, seja ela de Karl Barth ou Rudolf  Bultmann, ou até as resoluções teológicas de Jonathan Edwards, ou as teologias calvinista e arminiana, para configurar os seus versos. Eu poderia, se quisesse, fazer um poema “budista” ou com raízes nos upanixades. Mas não seria honesto da minha parte nem me vejo a escrever poesia “assim”. Respondendo simplesmente à sua pergunta: hoje já não faz sentido nenhum. A linguagem poética e o fazer “poieticamente” o poema é que o devem definir. Agora que existem poetas evangélicos e católicos e muçulmanos, todos sabemos que existem.

945176_10151761057889683_1468275932_n

Considera conveniente e adequado que a Arte e a Cultura comportem uma carga ideológica ou filosófica em si mesmo? Pensa que devem ter uma agenda, ou o poeta limita-se a expressar apenas o que é e o que sente?
Boa questão, conveniente para os dias de hoje em que há agendas para tudo. Se entendo a sua pergunta no que concerne à “carga ideológica”, se o escritor, designadamente o poeta, escrever em função dela, corre o risco de estar a ser panfletário, seja em que área for. Os poetas da era soviética, com o realismo socialista, foram-no em muitos poemas. Alguns dos poemas do nosso Ary dos Santos, são-no. Poderia citar outros da poesia portuguesa da resistência ao fascismo.
Já quanto à “filosófica”, essa carga pode estar ligada à cosmovisão do poeta sobre o Mundo e o Ser. Vejam-se as Elegias de Duíno, de Rilke, os sonetos de Walter Benjamin.
De facto, para lhe responder sinceramente, no sentido que julgo ter dado à pergunta, o poeta não deve ter “agenda”, que não seja a Humanidade, as experiências do Ser, e, se for religioso, a relação necessária do Homem com Deus, exprimindo o que sente em relação ao que vê, transformando o seu olhar em poesia.  Platão disse-o, um dia, de outro modo: a poesia é a passagem do não-ser para o ser. Esta é a agenda.
Desde a publicação da sua primeira obra poética em livro – “Este rosto do exílio”– em 1972, o que mudou na sua poesia e porquê?
O modo e o tempo de abordar as mesmas questões. Deixe-me dizer-lhe, de uma maneira não intelectual nem filosófica, que foi a idade. Tinha 25 anos, embora esse poemário tenha inserido os poemas que julguei maduros para esse tempo. Acho hoje, sem falsas modéstias, que o desejo da estreia não obliterou preocupações literárias e líricas com o que, numa resposta anterior, já respondi. Esse livro, em 1972, apontava já para o desejo de uma “Nova Poesia Evangélica”. É costume os poetas rejeitarem os seus livros de juventude, eu não, porque são pontos de partida de uma linguagem poética e um modus facciendi que se dirige para um Ponto Ómega, para usar uma expressão de Teilhard du Chardin, que se atinge com a morte.
Em matéria de influências literárias, Joanyr reclamava-se de Lorca, Drummond, Neruda e outros. Que influências literárias mais importantes tem consciência de ter sofrido?
Muitas. Aquelas que refere na sua pergunta, também as tive e continuo a beber nessas fontes. Claro que existem algumas mais importantes do que outras. Foi muito importante para mim e para a poesia que pretendia escrever, o ter descoberto em 1972, Ezra Pound e Ruy Belo. E os nossos poetas da Poesia 61. Mas já desde 1965 que lia Pessoa e Sá-Carneiro. Outro poeta que me ajudou a crescer, foi o José Gomes Ferreira. E o discurso inovador da poesia do corpo da Maria Teresa Horta. Obviamente que ainda hoje procuro acompanhar todos os poetas de Antologia da nossa Literatura.
Por incrível que possa parecer, o meu 25 de Abril na poesia dita “evangélica”, deu-se uma semana antes quando, em Lisboa, comprei numa livraria de Campo de Ourique e li de um fôlego: “Defesa da Poesia”, de Shelley, uma obra teórica, só depois vieram os românticos ingleses, já que falei em Shelley. Hoje, aos 66 anos, navego muito nas águas mediterrâneas da poesia italiana e espanhola, Umberto Saba e Ungaretti e todos os poetas da Geração del 27 sem excepção. De resto, um dos meus livros “Contagem de Estrelas”, de 1996, decorreu de uns versos que li de Gerardo Diego em Salamanca.

252461_10151169839899683_4144308_n

Nos seus poemas J. T. Parreira lança mão de temas bíblicos e clássicos de forma recorrente.
Sim, porque, como sabe, a maior parte dos meus poemas têm uma religiosidade que advém da minha formação protestante, evangélica. Um pastor baptista muito conhecido nos meios da juventude, escreveu há dias que sou o único poeta arminiano que ele conhece (risos). Reparou, e é verdade, que não fujo a incluir na religiosidade também os clássicos, especialmente os poetas gregos e o latino Virgílio.
Assim como de temáticas ligadas à cultura contemporânea. Nota-se que o seu universo passa por poetas, escritores, artistas plásticos, bailarinas, actrizes, cantores e artistas do século vinte.  
Sim, obrigado por essa exegese, que eu resumiria em duas palavras: procuro ser universal, nos assuntos que toco. Não sei se o consigo inteiramente, mas tento. E faço-o sempre sob a égide de uma frase teórica, mas tão simples quanto definitiva, do poeta norte-americano Wallace Stevens: “O assunto do poema é a poesia”.
Todavia sente-se uma atracção especial pela temática do holocausto nazi na sua poesia. Passados mais de 60 anos sobre os factos, ainda se sente impactado pela matéria.
Sinto, de facto. É costume dizer-se “para que a Terra não esqueça”, é mesmo o título de um livro sobre o Holocausto.  Mesmo agora, como sabe, passado mais de meio século, foi publicado um documentário filmado por Alfred Hitchcock em 1945, aquando da chegada dos americanos a alguns campos de concentração, mesmo àqueles pouco falados, mas onde a visão dos cadáveres era atroz. Esse filme vai ser lançado em 2015. Pude vê-lo no Youtube com o horror nos olhos.
Esse impacto vem da juventude, foi uma temática que me apanhou na minha ingenuidade quanto ao Homem que não deveria ser o lobo do Homem. Os crimes da Alemanha Nazi, a sua história, Adolfo Hitler, a II Guerra Mundial foram leituras imensas que fiz nos meus dezassete anos. Sobretudo o que se relacionava com aShoah e a horrenda dizimação de 6 milhões de judeus, sobretudo as crianças judias.
Sei que a guerra é a continuação da política por outros meios, mas os Holocaustos não, são o retorno ao crime cainita numa escala planetária.

7866

Porque escreve poemas? O que pretende transmitir (se é que pretende), ou limita-se a “sentir com a imaginação”, como dizia Pessoa?
A resposta mais fácil à sua pergunta, seria seguir o que disse Pessoa. Também, mas tal como o Alberto Caeiro, escrever poesia, “ser poeta” é uma maneira de estar sozinho, todavia com o coração no Mundo, e aqui “Mundo” deve ser lido como humanidade e Criação Divina. Concluo a resposta, usando o verso final do poema que citou: “Sentir, sinta quem lê!”
Fazer Poesia, para si, trata-se essencialmente de um exercício de natureza espiritual, estética ou de outro tipo?
Dê-me alguns segundos para pensar, não vá eu contradizer-me (risos).
Em primeiro lugar, o exercício estético já contém em si algo de espiritual. Já Plotino que era um místico, no Século III integrou a Estética, cujo nome não se conhecia ainda, como uma parte da Teodiceia. E, digamos, fez a Teologia do Belo, isto é, da sensibilidade ao Belo, à beleza do universo que canta a grandeza de Deus. Desde o século XVIII, quando o vocábulo apareceu, que “estética” significava simplesmente a teoria da sensibilidade. Ora, em segundo lugar, a sensibilidade reside mais na área do espírito do que no corpo, no que concerne à Arte.
Sim, para mim, trata-se de um exercício de criação literária espiritual e estético. Penso ter respondido à sua pergunta. Ah, desculpe, não escrevo poesia com qualquer “outro tipo” de intenção, muito menos a de vender.
Como vê a edição e a divulgação da poesia actual e dos poetas portugueses de hoje no nosso país?
Numa palavra que é um lugar comum, a poesia, a edição de poesia em Portugal, é “o parente pobre”. São as edições de autor, as pequenas editoras, as marginais, que vão fazendo muita coisa pela Poesia. Falta em Portugal uma editora carismática como a “City Lights”, de S. Francisco, do poeta Lawrence Ferlinghetti.
No nosso país, comparo a essa, as editoras Cotovia e Assírio& Alvim. Mas as aquisições feitas pelos grandes grupos editoriais estão a destruir tudo, no que respeita ao “parente pobre”. O que é que os economicistas da Leya, por exemplo, percebem de Poesia, ou mesmo de Literatura séria? Mesmo atribuindo os prémios a autores que continuam “ desconhecidos”, mas compreende-se, isso dá jeito à redução do IRC.
Como operário da língua portuguesa, o que pensa do tão polémico AO/90?
Penso como muitos – será a maioria? – dos escritores e poetas portugueses que é um “Aborto Ortográfico”.  Para o AO/90 só pode haver uma resposta curta e grossa.

1000222_603284636369934_933789514_n

J.T.Parreira, Lisboa, 1947. Poeta.
6 livros de poesia (Este Rosto do Exílio,1973; Pedra Debruçada no Céu, 1975; Pássaros Aprendendo para Sempre, 1993; Contagem de Estrelas, 1996; Os Sapatos de Auschwitz, 2008; e Encomenda a Stravinsky, 2011 ).
E-books na web: “Falando entre vós com Salmos: Cânticos Davídicos” , “Na Ilha Chamada Triste”, “Aquele de cuja mão fugiu o Anjo”, “Quando era menino lia o Salmo Oitavo”, “Nove Penas para Sylvia Plath” e “As Crianças do Holocausto”, entre 2010 e 2013.
Um ensaio teológico (O Quarto Evangelho-Aproximação ao Prólogo, 1988) e participação em Antologias.
 Escreve na revista evangélica “Novas de Alegria” desde 1964. Na juventude escreveu poesia e artigos no suplemento juvenil do jornal “República”, entre 1970-1972, sob a direcção de Raul Rego.
Apresentou comunicações, fez conferências e palestras sobre a Estética na Comunicação Escrita, a espiritualidade em Vergílio Ferreira, Fernando Pessoa, Bocage e Albert Camus, na primeira década do Século XXI.
Prefácios em livros de poesia.
Recebeu as insígnias de Doctor Honoris Causa, em Letras, pela Universidade Sénior de Setúbal, em 2010.
Está representado no Projecto Vercial, a maior base de dados da literatura portuguesa.

terça-feira, fevereiro 16, 2010

Poetas evangélicos participam de Concerto beneficente em prol do Haiti

*

Foi na noite do último domingo, no CCVA de Alvalade, Lisboa. Músicos, cantores e poetas juntaram-se para a realização de um concerto cuja bilheteira foi canalizada para ajudar à criação de um orfanato no Haiti. Houve lugar ainda a uma ligação telefônica direta com o coordenador do Desafio Miqueias em Port-au-Prince. Algém escreveu: "Uma noite memorável! Concerto Vozes pelo Haiti. Espírito de solidariedade fantástico. Que bonito ver tantos músicos, cantores, poetas, enfim, as artes ao serviço do amor."  

Na foto: os poetas Brissos Lino e João Tomaz Parreira declamam poemas seus acompanhados ao piano pelo maestro Pedro Duarte. 

Fonte: http://www.jubileu.org/

quarta-feira, setembro 30, 2009

Poemas do Cativeiro

*

Amados leitores, abaixo publicamos quatro poemas de quatro diferentes autores, que tem como tema a mesma passagem bíblica (Salmo 137), e o relato do cativeiro de Israel na Babilônia .


CATIVEIRO

à sombra do Salmo 137

As harpas nos salgueiros
estavam penduradas
e canto não existia

só lágrimas
só sonhos
repletos de alvoradas

esperança pelo Messias

Jerusalém!
eu choro saudades d’ Israel
oh! terra da Promessa
lugar de leite
e mel

o povo estava triste
junto aos rios da Babilónia
cativo
em terra estranha
e quando se assentava lembrando Sião
não podia cantar
qualquer canção

Jerusalém!
Eu choro saudades d’Israel
oh! terra da Promessa
lugar de leite
e mel.

Brissos Lino


O Salmo da Solidão

Junto às torrentes frescas assentados,
cativos, tristes, pobres e humilhados
e sem vislumbre de consolação,

na Babilônia, muita vez choramos
quando, cheios de angústia, nos lembramos
das glórias fascinantes de Sião.

Nossas harpas estavam desprezadas,
nos ramos dos salgueiros penduradas,
mudas, sem vibração, quietas e sós,

porque os soluços da tristeza infinda
e os dolorosos ais de certo ainda
enchiam de temor a nossa voz.

Aqueles que cativos nos levaram
e as nossas tendas logo derrubaram,
sem reparar a nossa humilhação,

para afligir-nos ainda mais, pediam
que cantássemos e eles ouviriam
os salmos e as cantigas de Sião.

Como, porém, podíamos, um dia,
mudar nossa tristeza em alegria
e transformar em riso a nossa dor?

Mas inda assim, exaustos e abatidos,
amamos nossos íntimos gemidos
e, humildes, bendizemos o Senhor.

Jonathas Braga
Do livro A Maravilhosa Luz



Saudade, Op. 137

Alguém nos exilou as liras.

Junto aos canais da Babilónia
trazia o vento familiares
cheiros do país fechado.

Pediam que fossemos ao fundo
dos objectos mais queridos
desarrumar a alegria,
aqueles que nos tinham oprimido
dos nossos soluços queriam
que o cântico de Sião
fosse inventado.

Mas alguém exilou as nossas harpas
desiludidas nos salgueiros,
como tirar das coisas deste mundo
um cântico ao Senhor?

Só o vento se inclinava
sobre as liras penduradas.

João Tomaz Parreira



Cânticos de Sião

Sentados na beira do rio
Da famosa Babilônia,
Os filhos de Israel choravam
Nas longas noites de insônia,
Pois se haviam afastado
Dos estatutos do Senhor,
Roubaram, foram injustos,
Seus corações sem amor!
Ah! As palavras dos profetas
Foram todas esquecidas,
Por isso agora são prisioneiros
Com mãos e almas feridas.
Diziam os babilônios:
“Cantem os cantos de Sião”
Ao vê-los tristonhos, saudosos,
A amassar barro no chão.
Se a sua dor é tão grande
E a saudade é verdadeira,
“Como cantar a canção
Do Eterno em terra estrangeira?”
Como esquecer poderiam
As glórias de Jerusalém
E o que edomitas fizeram
Para arrasá-la também?
Nos salgueiros pendurando
As suas harpas silenciosas
Não as podiam tocar
Com as suas mãos calosas!
A Deus pediam: queremos
Ver Babilônia destruída,
Pegar em cada criança
E dar fim à sua vida!
Hoje, escravos do pecado,
Querendo a libertação,
Temos no Filho de Deus
O caminho p’ra Sião!

Abigail Braga
do livro Cânticos de Sião Volume II
* Abigail Braga é irmã do nosso grande poeta Jonathas Braga

sexta-feira, julho 17, 2009

ÁGUAS VIVAS - Antologia de Poesia Evangélica para download

*

Amados irmãos e leitores
, é com imenso prazer que trago até vocês mais uma antologia poética. ÁGUAS VIVAS é um e-book gratuito, uma antologia reunindo textos de 10 poetas evangélicos contemporâneos, apresentando autores relativamente pouco conhecidos ao lado de outros já consagrados, como o Pr. Israel Belo de Azevedo, Pr. Josué Ebenézer e o Prof. Noélio Duarte, membros Academia Evangélica de Letras do Brasil (AELB), e o bardo português João Tomaz Parreira, entre outros.

Leia alguns trechos da apresentação:

Águas Vivas, mais que uma simples antologia poética, nasce como um oportuno projeto, que visa a aproximar ainda mais leitores e poetas evangélicos contemporâneos. Por um lado divulgando a poesia evangélica e incentivando a produção de bons autores, e por outro, apresentando ao leitor um breve, mas significativo panorama da obra destes bravos bardos que têm na fé evangélica e no manejo das palavras o traço de sua união. E projeto ainda porque meu objetivo, se o Senhor assim o permitir, é organizar de tempos em tempos novos volumes desta antologia, contemplando a obra de muitos outros autores.
... ... ...
Tenha uma boa leitura, e sinta-se livre para compartilhar este livro eletrônico com seus amigos, irmãos e contatos, mas lembre-se: a obra não pode ser comercializada de nenhuma maneira, estando liberada sob uma licença Creative Commons.”

Em ordem alfabética, os autores que compõem este livro são: Brissos Lino, Gilberto Celeti, Giovanni C. A. de Araújo, Israel Belo de Azevedo, J. T. Parreira, Josué Ebenézer, Luiz Flor dos Santos, Noélio Duarte, Sammis Reachers e Wolodymir Boruszewski (Wolô).

São 163 páginas, em formato PDF. Para você baixar, divulgar e compartilhar à vontade.

Para baixar o livro pelo site Google Drive, Clique Aqui.
Para baixar o livro pelo site 4Shared, Clique Aqui.
_______________________________

Irmãos, estejam livres para reproduzirem este post em seus blogs, e/ou disponibilizarem este livro para download direto a partir de seus blogs e sites, sejam pessoais ou institucionais, sem a necessidade de prévia autorização.

Sammis Reachers, org.

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Dois poemas de Brissos Lino


AMIGO
Ao amigo J. T. Parreira

Um amigo ata as pontas soltas
do tempo
desenleia o novelo
da distância
valoriza as migalhas na mesa
do prazer
protege as costas na esquina
dos desencontros
e tece um sonho comum

um amigo custa caro
o salário da vida toda.




A FORÇA DAS PALAVRAS

“Guardo no coração as tuas palavras”. Salmo 119:11

As Tuas palavras
são olhos
rasgados
navios
ancorados
em mim
as Tuas palavras
são punhos
fechados
martelo
a teimar na pedra
rebelde
são feitas de espanto
bordadas
de encanto
palavras que não hesitam
nascer
látego ou afago
lágrima rolante
enfado
palavras que ardem na carne
e ficam mel
no caminho
que choram
e aproximam
palavras que aguardam
uma bússola convicta.
As Tuas palavras
perfazem a esperança
ressuscitando a memória
as Tuas palavras
Senhor
constroem a História.

Visite o blog do autor:
www.ovelhaperdida.wordpress.com

sexta-feira, abril 11, 2008

Um ensaio do poeta Brissos Lino sobre a vida e a obra de J. T. Parreira



J. T. PARREIRA, O CONTADOR DE ESTRELAS


Brissos Lino*

Poeta de referência da língua portuguesa, sobretudo na de inspiração cristã, traduzido em várias línguas, João Tomás Parreira (JTP), que também assina J. T. Parreira, é o pioneiro da nova poesia de expressão evangélica em Portugal.

Percebem-se algumas influências na sua obra de toda uma vida dedicada à arte poética.

Desde logo uma influência de carácter bíblico e religioso. Trata-se da influência mais antiga do seu percurso (ex: “Do Paraíso para nenhuma direcção”, “Como Abraão”, “Mulher com cântaro”). O que é natural, num tempo em que, nos meios evangélicos, outros tipos de poesia, ou a poesia em si mesma pouco valiam, a não ser, e só, enquanto veículo de divulgação da fé. Aliás, este foi um ponto de partida do qual muitos nunca ousaram sair.
Não foi o caso de JTP, que soube explorar outros campos do Poema, percebendo a tempo que o verdadeiro cristianismo não está na declaração de fé que se faz, na temática religiosa em si, ou em qualquer espécie de imperativo proselitista, mas no testemunho da vida toda, o que inclui o uso da palavra sem fronteiras nem estreitos compromissos estéticos ou temáticos.

Por isso há também em JTP uma clara influência histórico-cultural que lhe permite fazer poesia a partir dos clássicos (ex: “Ulisses entrando em Ítaca”), assim como da cultura moderna europeia e americana (ex: “Marilyn”, “Sílvia Plath”, “Picasso”, “A bailarina de flamenco”), revelando um homem que, apesar de estribado na cultura clássica que está por alicerce da nossa identidade ocidental, não deixa de permanecer também atento à modernidade.

Ultimamente verifica-se em JTP um interesse por fórmulas minimalistas da arte poética, como, por exemplo, a influência japonesa dos haicais, que tão bem desenvolve, com a mestria que se lhe reconhece. Neste tipo de discurso poético, a economia das palavras desnuda a força das imagens poéticas, o que torna mais exigente a sua construção e mais rigorosa a utilização da palavra, aguçando assim o engenho e a arte.

Mas como qualquer poeta JTP não dispensa uma dimensão intimista nos seus escritos (ex: ”Nocturno de mim“), através da qual discorre poeticamente sobre os sentimentos, sensações e pensamentos que fazem do ser humano aquilo que ele é, uma enorme complexidade sujeita à maior das volubilidades.

JTP extravasou já as fronteiras da língua pátria, aventurando-se tanto na tradução de autores estrangeiros como na delicada operação de transporte de poemas seus para outras línguas, entre as quais o inglês, o italiano e o turco.

Longe vai o tempo em que assinámos ambos (eu ainda muito jovem), juntamente com Joanyr de Oliveira, do Brasil (o mais velho dos três), o Manifesto da Nova Poesia Evangélica, publicado nos dois países. Estávamos em 1974, quando fizemos história, e esse documento constituiu uma espécie de texto fundador para uma nova forma de fazer poesia, que se desejava no meio evangélico dos dois países, de modo a dar lugar à Arte, e contribuir para acabar com aquilo a que o poeta Ary dos Santos chamou em tempos os “açougueiros das palavras”.

JTP, aos sessenta anos, continua a ser um esforçado contador de estrelas. Durante estes cerca de quarenta anos de amizade e companheirismo literário, nunca o vi de outra forma.

Março de 2008


* Pastor, Psicoterapeuta e Poeta

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Três poemas de Brissos Lino


FLORAIS I

Tu já eras para mim realidade
mas só como folhas soltas no tempo
ou o odor campestre de alguma flor
agora chamo-te Deus
sem portas
nem idade.


HOMENS

“Somos apenas pó e trevas.” (Horácio)

À superfície deste corpo vegetamos
e escrevemos da nossa mágoa
litros de lágrimas de sangue
com penas leves de sombra
temas sólidos que nos aprofundam
os olhos incolores
o sabor impuro
que nos desce à boca
é o rasto
do pensamento
mas somos reis a rasgar as vestes
se a Mensagem que acolhemos nos sitia
entre muralhas de silêncio
e os cardos do nosso orgulho
sufocam a boa sememte
que nos lança Deus ao coração.


NATUREZA MORTA

“Prata e ouro são os ídolos deles, obra das mãos de homens.
Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem, e quantos neles confiam”.
(do Salmo 115)


Um pássaro a entornar manhãs
já podres
na boca ansiosa e muda
dos adoradores
uma lágrima a ansiar o fim
corda ou veneno
na garganta desesperada e muda
dos adoradores
uma estátua a amarrar os olhos
dos cegos.

www.ovelhaperdida.wordpress.com.

quinta-feira, agosto 09, 2007

Dois poemas de Brissos Lino



SALMO PRESENTE

Escuto. Mas o uivar dos lobos não me assusta.
Nem o rumor do vento
poque o meu olhar se me alonga
para os pastos verdejantes
e águas tranquilas.
O bardo onde vivo refrigera-me
(já nem sei o que sejam veredas errantes).
A lã de que sou vestido é branca,
e só de alegria o peito me salta
porque a mesa em que me sento é farta
e os meus inimigos se espantam comigo.


O céu de Auschwitz

Os gritos, o medo
a força da vida
nos barracões de Auschwitz
metralhadoras miram
corpos nús
homens e mulheres
velhos
crianças
quatro milhões de inocentes
no espanto da igualdade
russos, judeus e polacos
franceses e outros
metralha e “Zyclon B”
a besta nazi rumina
vinte mil mortes por dia
nas câmaras de Auschwitz
toneladas de cabelo
milhares de óculos
roupas
dentes postiços
brinquedos e chupetas
o stock ignominioso
da besta
satanás desmascarado
no carnaval carioca
da morte
…………………………………..
o céu é cinzento e húmido
hoje
em Auschwitz.

In “Salmo Presente”, IEC, Setúbal, 1996

quinta-feira, dezembro 28, 2006

DOCUMENTO HISTÓRICO

Em 1974, foi publicado, pelos poetas Joanyr de Oliveira e João Tomaz Parreira, o manifesto “Por Uma Nova Poesia Evangélica”. Primeiro na revista ‘A Seara’ (Brasil), e após na revista ‘Novas da Alegria’ (Portugal, onde também assinou o manifesto o poeta Brissos Lino). O feito representou um verdadeiro marco em nossa poesia, numa época em que, se por um lado era fervilhante de experimentalismos e novidades o meio literário secular, onde a palavra vanguarda ainda tinha algum valor significante, era, por outro lado, de uma certa estagnação na poesia dita evangélica, com a maioria dos autores ainda presa às velhas correntes.
Publico abaixo, na íntegra, o texto do Manifesto, ciente de que suas proposições são válidas ainda hoje.


Por uma nova poesia evangélica

CONSIDERANDO que Arte pressupõe criatividade, pesquisa, crítica e auto-crítica, busca permanente de novas formas e fórmulas;
CONSIDERANDO que em Arte ou renovamos ou perecemos no marasmo do lugar-comum, na sensaboria do pasticho, no eco estéril;
CONSIDERANDO que o apego a escolas ou correntes estéticas ultrapassadas vem comprometendo de modo muita vez irremediável o nível da poesia, notadamente a de conteúdo religioso e particularmente a da mensagem evangélica;
CONSIDERANDO que uma linguagem renovada na expressão poética pode manter-nos em perfeita harmonia com idéias, figuras, símbolos, metáforas contidos nos textos bíblicos;
CONSIDERANDO que a pretensa “simplicidade”, defendida e praticada por muitos, é quase sempre um apelo ao fácil descategorizado, ao prosaico, ao comodismo que nada constrói nem coopera no aprimoramento a que todos devemos aspirar;
CONSIDERANDO que o pieguismo (muito próprio da alma latina, aliás), a adesão ao derramado sentimentalismo, não dignificam a Arte, já que reduzem, quando não suprimem, o exercício da serena reflexão;
CONSIDERANDO, por fim, não haver incompatibilidade entre as fontes seculares – enquanto tomadas como subsídios, pontos-de-referência, paralelos – e a religião, sendo válidos todos os dados culturais quando se realiza uma obra de Arte, importando, antes, o tratamento dispensado ao “material”, o “savoir faire” nos rumos da dignificação do não-digno, da desprofanização do profano, dentro do espírito paulino de examinar de tudo, retendo o que é bom;
DECLARAMO-NOS por uma Nova Poesia Evangélica, inconformada e irreconciliável com o decadente e o passadista em matéria de expressão (de linguagem) e de concepção; por uma Nova Poesia Evangélica dirigida no sentido de uma contínua renovação expressional, em que a glorificação a Deus e a aceitação dos valores espirituais (de ênfase bíblica e evangélica) se destaquem, de forma alta e nobre, sem hostilidades passionais ou indeferentismos ante aquilo que se aninhe no interior de cada criatura humana ou que gravite nas periferias do Homem.
Em Fevereiro de 1974
Ass.: Joanyr de Oliveira - Brasil (Brasília, DF)
Ass.: João Tomaz Parreira - Portugal (Aveiro)

quarta-feira, novembro 22, 2006

Um poema do português Brissos Lino

IGREJA VIVA COM UM REPARO

1
suponho em Ti
corpo ataviado
essa renúncia absoluta
perfeita

a espera paciente do Amado

2
desvendo assim
a palavra Amor
que Te enforma as mãos
que Te aviva a boca
que Te anima os pés
castigados da jornada

e por ela
o espanto da Tua imagem
fustiga o mundo

e a janela

3
estes adornos bastantes

este rosto altissonante
que conhece toda a Terra

este arado declarado
rasgando a palmos o chão
de Oriente a Ocidente

este viver o presente
a cavalgar o passado
com a alma, com os braços
e a fé
amealhando o porvir

4
Importa uma luz acesa na noite
despida e alta

e azeite que baste

5
noiva milenar
noiva boreal
guardando nas malas
um enxoval de manhãs

tricotando a custo
o prestígio do céu

6
quem procura confundir
os claros limites da formosa silhueta
com a penumbra do entardecer?

7
casca de noz navegante
mastro feito de fé e beleza
velas brancas
de esperança remendadas

a alegria é uma mesa
arredondada
onde se come o pão da incerteza

no limiar cinzento das águas
neste anseio p’las nuvens
o mar corrupto e revolto
o mar adulto blasfema
oceano de medos e solidão
em que um barquinho dormita
à sombra de Deus

8
a alegria é uma cama
onde se acolhem os sonhos mais maduros

9
e contudo saltas os muros
para ir ver o pôr-do-sol

10
contra Ti apenas
um reparo do Senhor

-oh Éfeso
eleita e amada
que fizeste Tu do primeiro amor?

Brissos Lino (1954 - ) in Antologia da Nova Poesia Evangélica
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...