Natal. E a criancinha de
Belém
Volta a deitar-se
novamente sobre a palha.
Pelo universo todo uma
nuvem de bem
Suavemente se espalha.
O bombardeiro esfria seus
motores.
Não sobe aos céus para
atirar lá das alturas
Chuva de morte sobre a
terra já molhada
Pelo chorar dos órfãos,
das viúvas,
E pelo sangue dos soldados
inocentes
Que marcham contrariados
para o "front".
Dorme a metralhadora. A boca
escancarada
Dos canhões emudece nesse
dia.
Pelos campos juncados de
cadáveres,
Sobre as cruzes que marcam
sepulturas
Dorme um silêncio frio que
apavora.
Soldados acampados ou no
fundo da trincheira
Escrevem cartas tristes,
soluçantes
À esposa, à filha, à mãe,
à irmã, à companheira.
E enquanto a noite estende
os braços doloridos
Toda crepe e viuvez sobre
as frentes de guerra,
Ouve-se, triste, a voz dos
soldados entoando,
Entre lágrimas quentes de
emoção,
A melodia universal
Do hino de Natal:
“Noite de luz!” “Noite de paz!” “Noite feliz!”
No lar, a ausência encheu
de um frio inconsolável.
A ausência dele, o
filho... o irmão... o esposo... o pai...
O coração está com frio
porque falta
O outro coração que
pulsava e aquecia,
E agora que é varrido da
rajada
Não pulsa mais dentro do
peito, cai...
Bem de manhã vai começar,
dura, a batalha...
Porém, enquanto é noite, a
voz triste se espalha
Sobre os campos, cantando
para a morte
O nascimento do Senhor da
Vida:
“Noite de luz!” “Noite de paz!” “Noite feliz!”
* * *
É mesmo, meu Jesus! Todo o
sangue que inunda
O mundo horrivelmente
ensanguentado
Podia ser poupado!
Bastava aos homens crer em
ti!
O reino que fundaste é
diferente
Dos reinos todos
idealizados!
Porque o fundaste sobre o
amor!
Permite que o Natal que
vem, que o próximo Natal
Seja bem outro que o Natal
de agora.
Lança as forças do bem
contra as hordas do mal.
Enxuga os olhos tristes de
quem chora.
E que o mundo festeje
felicíssimo,
Nessa noite de paz, nessa
noite feliz,
O Natal de Jesus! O Natal de Jesus!
O BEIJO DA ESTRELA
Quando Jesus nasceu
No céu azul era uma noite
esplendorosa!
Cheia de luz, e muito
grande, e muito linda,
Luz que iria brilhar por
muito tempo ainda,
Uma estrela majestosa
Apareceu.
Maior que as outras, mais
brilhante, e revestida
De extraordinária
alacridade,
Tinha, a correr nos céus
uma cauda comprida
Que se ia perder no azul
na imensidade.
E corria a cantar pelos
céus, em fulgor,
Um cântico de luz.
Era um hino de paz, de
alegria, de amor
Que dizia ter nascido o
Salvador
Jesus, Cristo Jesus.
Uns pastores ouvindo o
cântico da estrela,
Os olhos levantaram para
vê-la,
Inebriados de luz e da
estranha emoção.
E ao final desse cântico
de glória
Ouviu-se pela terra um
hino de vitória:
Jesus venceu a morte e
trouxe a salvação!
A estrela pelos céus, em
cânticos de luz
Suavemente seguia.
E, graciosa, a fulgir
infinita alegria
Pairou sobre uma humilde
estrebaria
Onde estava Jesus.
E, através dos espaços
resplendentes
Atirou sobre a palha onde
estava Jesus,
Onde Jesus dormia,
Um puríssimo, um longo, um
celestial
Beijo de luz,
Que foi depois dos beijos
de Maria
O mais suave dos beijos de
alegria
Sobre a fronte divina de
Jesus.
Do livro VIDA (Imprensa
Metodista, 1952)
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